Qualidade de vida e dinâmicas de conflito na população da península de Paracas, costa sul do Peru durante o final do Horizonte Temprano (400 a.C – 100 d.C)


Autoria  Mejía, Juliana Gómez
Data de publicação  4/10/2016
Idioma  Português
Editor  USP
Coleção  Teses e Dissertações
DOI  10.11606/T.41.2017.tde-03012017-113021

Este trabalho avalia, desde uma perspectiva bioarqueológica, diversos indicadores ósseos de estresse e de violência física nas populações que foram sepultadas na península de Paracas, costa sul do Peru, durante o final do Horizonte Temprano (400 a.C – 100 d.C). Tal período é essencial na história da complexificação social dos Andes Centrais, porque coincide com o colapso da tradição Chavín que previamente integrava diversas organizações políticas, causando fragmentação regional e surgimento de sociedades diversificadas com elites disputando o poder. Durante o final do Horizonte Temprano várias regiões andinas exibiram arquitetura defensiva, altas frequências de traumas violentos e iconografia que incluía cenas de violência e de possível conflito. Além disso, dados publicados para outros sítios contemporâneos da região sugerem a existência de um período de crise com profundas mudanças sociopolíticas. Para nos aproximarmos do impacto que teve esse processo na qualidade de vida das pessoas sepultadas na península de Paracas, foram estimadas a estatura adulta, prevalências de hipoplasias do esmalte dentário, cribra orbitalia, hiperostose porótica, lesões do periósteo, traumas, trepanações cranianas e modificação intencional do crânio, numa coleção de 307 esqueletos escavados por J.C Tello entre 1925-1930. Esses indivíduos foram sepultados durante duas fases consecutivas: Cavernas (sítio Cerro Colorado) e Necrópolis (sítios Warikayán e Arena Blanca). Durante o período Cavernas observamos menor estatura adulta masculina e maiores prevalências nos indicadores de estresse e de traumas cranianos em comparação ao período Necrópolis. Nesta última fase, que coincide com o aparecimento de grupos associados à tradição Topará, observamos variação no tipo geral de modificação craniana, menor exposição aos traumas cranianos, aumento da estatura masculina e redução na prevalência de indicadores ósseos de estresse, sugerindo melhoras nas condições gerais de vida. Esta pesquisa fornece novos dados para compreender o impacto das mudanças nos processos de complexificação social sobre a qualidade de vida que aconteceram nos Andes Centrais

This research uses a bioarchaeological perspective to analyze various skeletal stress markers and violence-related trauma in the populations buried on the Paracas peninsula, south coast of Peru, during the final Early Horizon period (400 B.C – AD.100). This period, in the complex social history of Andean population is transformative because of the decline of the highland Chavin culture that previously integrated various socio-political organizations, which led to regional fragmentation and local elites vying for political control. During this period were found, defensive architecture, high prevalence of cranial trauma, and warrior iconography in various Andean archaeological sites. In addition, published data for contemporaneous sites suggests a crises period that lead to major sociopolitical changes. To assess the impact this process had on the quality of life, this study estimates the adult stature and prevalences of enamel hypoplasia, cribra orbitalia, porotic hyperostosis, periosteal lesions, skeletal trauma, cranial trepanation, and cranial vault modification in 307 skeletons from the J.C Tello collection, excavated between 1925 and 1930 on the Paracas peninsula. Those individuals were buried in two successive cultural periods: Cavernas (Cerro Colorado site) and Necrópolis (Warikayán and Arena Blanca sites). In the Cavernas period a shorter male stature and a higher prevalence in the stress markers and cranial trauma were observed. The subsequent Necropolis period, influenced by Topará groups, showed differences in cranial vault modification types, significant reduction of cranial trauma, increases in male stature, and lower prevalence of skeletal stress markers. This findings suggest a more stable period with better life conditions. These results provide new insight into the impact of social complexity on the development of Andean population’s quality of life