O presente glossário foi concebido com o objetivo de servir como uma referência inicial destinada ao
público não especialista que, por vezes, não compreende certos termos técnicos utilizados por aqueles que pesquisam o carste e as cavernas. Tentamos manter o vocabulário acessível também para os alunos do Ensino Médio que desejem conhecer um pouco mais sobre o assunto.
Foi idealizado com base nos aspectos geológicos e geomorfológicos das paisagens cársticas e muitos
dos termos e das fotos que estão contidos neste trabalho refletem as experiências teórica e de campo dos próprios autores. Destacamos, entretanto, o fato de que muitas destas informações estão baseadas na bibliografia indicada no final do trabalho, seguindo o exemplo dos próprios textos consultados, que também se basearam em muitas outras fontes. Vale a pena apontar que, em língua portuguesa, existe apenas um livro desse tipo, o qual foi publicado em Portugal no ano de 2007. Esse trabalho (Glossário Ilustrado de Termos Cársticos), à venda na página da internet das Edições Colibri, foi organizado pela Doutora Maria Luísa Rodrigues e contou com a colaboração de outros pesquisadores, entre eles, o Dr. Lúcio Cunha, conhecido carstólogo português, Professor da Universidade de Coimbra. Sendo assim, os autores do presente trabalho decidiram elaborar um livro que nos auxilie a tornar os termos da Carstologia e da Espeleologia mais conhecidos e acessíveis no Brasil.
Este Glossário Conciso e Ilustrado de Termos Cársticos e Espeleológicos é o primeiro livro da Série
Didática Estudos do Carste que é oferecido com os votos de que as informações sejam úteis ao leitor.
A terminologia é a ferramenta básica de todo trabalho científico. Sem a terminologia um pesquisador
não pode trabalhar de forma sistemática e metodológica; não pode comunicar suas descobertas aos seus
colegas e tem menos possibilidades ainda de fazê-las circular na esfera mundial. A terminologia é uma
espécie de vocabulário para um determinado círculo, para aquele que não a domina, e não sabe “falar” de
modo científico. O carste é o objeto de uma ciência relativamente jovem conhecida como Carstologia que é interdisciplinar e multidisciplinar por excelência. Sendo assim, a terminologia é mais importante ainda para os carstólogos, por ser mais extensa e mais difícil de dominar, visto que contém termos de outras ciências que participam das pesquisas do carste, das suas formas e dos seus processos. Ao ler textos mais antigos, nos deparamos com palavras muito diferentes, então usadas para descrever formas e fenômenos cársticos, mas que atualmente não são mais encontradas em qualquer terminologia moderna. Como exemplo, podemos citar o termo chinês “flor de pedra”, usado para designar os espeleotemas, ou os termos em alemão para “round deepening” ou “kettle valley” para designar os poljes.
Os termos carstológicos não foram cristalizados em dezenas, mas, sim, em algumas centenas de anos
e as primeiras terminologias apareceram em alemão, francês, inglês e em outros idiomas ao longo do século XX. Hoje, a terminologia cárstica se desenvolve em duas direções: nas chamadas terminologia internacional e nas terminologias “nacionais”. A primeira é em língua inglesa e contém expressões que, em sua maioria, são nessa língua e são utilizadas em todo o mundo. Uma tendência dos países que possuem importantes terrenos cársticos ou dos que têm pesquisado o carste intensamente é terem uma terminologia em sua própria língua. Essas terminologias contêm termos científicos na própria língua pátria, bem como termos originais “internacionais” escritos em inglês ou traduzidos para a língua local e adaptados ao alfabeto nacional. As terminologias em japonês ou russo bem exemplificam tal fato. A Eslovênia, a Croácia e a Sérvia são nações que se desenvolveram no Carste Clássico e no Carste Dinárico – locais onde o termo carste surgiu – tiveram suas terminologias cársticas publicadas em 1972 e 1973. Um dos mais recentes glossários, talvez o maior, foi escrito pelo conhecido carstólogo tcheco, Vladimir Panoš. O corpo principal está em língua tcheca, mas os termos são traduzidos para outros seis idiomas: inglês, francês, italiano, alemão, russo e espanhol, mas não para o português. Talvez porque países de língua portuguesa ainda não sejam identificados como países cársticos, mas muitos apresentam extensos terrenos com essa paisagem. Mas não apenas com a paisagem.
No Brasil, por exemplo, existem sistemas de cavernas de importância mundial. Há atividades espeleológicas bem organizadas, instituições de pesquisas sobre o carste e seu estudo em universidades reúnem alguns professores bastante conhecidos, que são especialistas em pesquisa carstológica. No Brasil, especialmente nos últimos anos, têm sido publicados livros relacionados ao carste, em língua portuguesa. Até onde é do meu conhecimento, existe apenas um glossário carstológico em português, publicado em Portugal. Certamente isso não é suficiente para todos os países que adotam essa língua e, principalmente, não basta para o Brasil. E isso não é apenas uma questão de número de cópias impressas, preço e distância . É também uma questão relacionada com a percepção do carste, de suas características, suas especialidades e de sua gênese. O carste brasileiro apresenta algumas particularidades, e as formas de pesquisa e estudo locais necessitam de ferramentas carstológicas e espeleológicas próprias. E entre os princípios básicos e as ferramentas mais necessárias para isso está a terminologia. Um glossário nunca está acabado: novos termos são desenvolvidos, alguns dos antigos caem em desuso, termos de outras ciências e que são importantes para a Carstologia são introduzidos e mais e mais termos locais são encontrados nos trabalhos de campo… Assim sendo, fico muito feliz em poder dizer que este glossário é um passo à frente, não somente do ponto de vista terminológico, mas um passo à frente também para as pesquisas sobre o carste no sentido mais amplo da expressão. Além disso, é bom afirmar que a Carstologia no Brasil não é tão antiga, mas que está se desenvolvendo rapidamente; se desenvolvendo a passos largos, se não aos saltos. E este glossário confirma isso.
Terminology is the basic tool for every scientific work. Without terminology, a researcher cannot
work systematically and methodologically; they cannot communicate to their colleagues discoveries and have even less possibilities to circulate them in the world’s sphere. Terminology is a sort of vocabulary for a certain circle of people who do not master it, and cannot “tell” science.
Karst is the object of a relatively young science named Karstology, which is interdisciplinary and
multidisciplinary per excellence. Therefore, the terminology is even more important for karstologists and
more extensive and difficult to master because it contains terms of other sciences that take part in the research on karst, its forms and processes. When reading older texts, we notice that very different words were once used to describe karst forms and phenomena, which are no more found in any modern terminology. As examples, we cite the Chinese expression “stone flower”, for speleothem, and the German equivalents to “round deepening” or “kettle valley” for polje.
The karstological terms crystallized not in tens but in a few hundred years and the first terminologies
appeared in German, French, English, and other languages during the 20th century. Nowadays, karst
terminology is developing in two directions: in the so-called “international” terminology and in “national”
terminologies. The first one is in English and contains mostly English expressions, which are used all round
the world. It is a trend in nations having important part of karst terrains or exploring karst intensively to
have the terminology in their own language. These terminologies contain scientific terms in their own national language and original “international” terms written in English or adapted to their language and alphabet as well as the translation of the terms. Japanese or Russian terminologies are examples of this. Slovenes, Croatians and Serbs – these are nations on Dinaric Karst, which is classical karst terrain, also where the term karst came from – got their karst terminologies in 1972 and 1973. One of the last and maybe the most extensive ones was the Karstological and Speleological Terminology written by the well-known late Czech karstologist Vladimir Panoš. The main body is in the Czech language but the terms are in six other languages: English, French, Italian, German, Russian, and Spanish, but not in Portuguese. Maybe Portuguese-speaking countries are just not yet identified as karst countries but they have extensive karst terrains. But not just terrains. In Brazil, for example, there are cave systems of world importance. There are well organized speleological activities, there are institutions with karst research and the university study of karst involves some well-known professors, specialists in karst research. In Brazil, especially in the last years many books related to karst were published in Portuguese.
To the best of my knowledge, there is only one terminology written in Portuguese, published in
Portugal. Surely, this is not enough for the whole Portuguese speaking world and especially not for Brazil.
It is not just a question of the number of printed copies, of price and of distance. It is also a question of
point of view upon the karst, its characteristics, its specialities and its genesis. Brazilian karst has some
particularities and its research and study have some particular ways and it is to understand itself that it
needs its own tool of Karstology and speleology. And one of the basic and the most needed tools is terminology. Terminology is never finished: new terms develop, some old ones become disused, terms from other sciences, important for Karstology, are introduced, more and more local terms are found during the field work… So I am very glad to be able to say that this glossary is a step forward not only from the view of terminology; it surely is a step forward in karst research in the broader sense of the expression. Moreover, it is good to state that Karstology is not so old in Brazil, but it is developing fast, developing in big steps if not in jumps. And this glossary is showing this.