O Brasil desponta como um país rico em cavidades naturais subterrâneas, com mais de 20.000 cavernas cadastradas oficialmente. Além das cavernas, as quais se desenvolvem em diferentes tipos de rocha, há outros habitats subterrâneos (hipógeos) com corpos d’água na forma de drenagens (riachos de nível de base), de afloramentos do freático (zona saturada) em cavernas inundadas ou na forma de poças e lagos dentro de cavidades, além de bolsões de aquíferos superiores formados por água de infiltração na rocha. Em alguns casos, as águas subterrâneas não afloram em cavidades, e sim em aluviões próximos a rios, representando uma zona hiporreica. A ictiofauna subterrânea brasileira é composta por peixes restritos às cavernas e outros habitats subterrâneos (geralmente categorizados como troglóbios/estigóbios) ou por espécies que possuem populações bem estabelecidas nestes habitats, mas que também ocorrem em riachos e corpos d’água da superfície (categorizados como troglófilos). Atualmente há mais de 80 espécies de peixes com populações troglóbias e troglófilas no Brasil. Alguns estudos populacionais para peixes troglóbios/freatóbios apresentam estimativas de tamanhos e densidades populacionais variáveis, geralmente caracterizadas por populações pequenas; uma tendência ao sedentarismo; baixos valores de fator de condição e estratégias de ciclos de vida tendendo ao K dentro do continuum r-K. Estas características são relacionadas às condições abióticas únicas destes habitats, tais como aporte de nutrientes baixo, infrequente e muitas vezes imprevisível, o que pode representar um filtro acentuado. Em relação à conservação, os peixes de riachos de cavernas e de outros habitats subterrâneos encontram-se ameaçados e a maioria das espécies descritas formalmente está inserida em listas de fauna ameaçada no Brasil, apenas quatro espécies foram incluídas e avaliadas globalmente (a piaba Stygichthys typhlops e os bagres Pimelodella kronei, Phreatobius cisternarum e Phreatobius sanguijuela).
ECOLOGY OF FISHES OF CAVE STREAMS AND OTHER SUBTERRANEAN HABITATS:
Brazil is rich in caves, with more than 20,000 officially registered. In addition to the caves, which develop in different types of rock, there are other subterranean habitats (hypogean) with bodies of water in the form of drainages (level base streams), outcrops of the water table (saturated zone) in flooded caves or in the form of pools and lakes within caves, in addition to upper aquifers formed by infiltration of water in the rock. In some cases, groundwater does not emerge in caves, but in alluviums close to rivers, representing a hyporeic zone. The Brazilian subterranean ichthyofauna is composed of fish restricted to caves and other subterranean habitats (generally categorized as troglobites / stygobites) or species that have well-established populations in these habitats, but which also occur in streams and bodies of water on the surface (categorized as troglophilics). Currently, there are more than 80 species of fish with troglobitic and troglophilic populations in Brazil. Some population studies show estimates of varying population sizes and densities, generally characterized by small populations; a tendency towards a sedentary lifestyle; low condition factor values and life cycle strategies tending to K within the r-K continuum. These characteristics are related to the unique abiotic conditions of these habitats, such as low, infrequent and often unpredictable supply of nutrients, which can represent an accentuated filter. In relation to conservation, subterranean fish are threatened and most of the species formally described are included in lists of threatened fauna in Brazil. Only four species have been included and evaluated globally (Stygichthys typhlops, Pimelodella kronei, Phreatobius cisternarum and Phreatobius sanguijuela).