Biomonitoramento de uma grande congregação de morcegos no Parque Nacional do Catimbau, Pernambuco


Autoria  TORRES, Jaire Marinho
Data de publicação  25/2/2016
Idioma  Português
Editor  UFPE
Coleção  Teses e Dissertações

Os morcegos são um dos grupos de mamíferos mais amplamente distribuído e diverso do mundo. A variação da ordem Chiroptera pode ser exemplificada por seus hábitos alimentares, quesito em que somente a saprofagia não é contemplada. Essa variedade é verificada também na utilização de abrigos, pois exploram desde abrigos naturais até artificiais. Os abrigos são particularmente importantes, pois é neles que os morcegos passam a maior parte de suas vidas, em pequenos grupos ou em grandes congregações com milhões de indivíduos. As cavernas são os abrigos mais estáveis, e comumente utilizados por grandes colônias. Entretanto, as cavernas desconhecidos quando se trata dos morcegos brasileiros, o que é preocupante devida à elevada diversidade da quiropterofauna brasileira. É necessário conhecer essas grandes congregações cavernícolas, pois grandes agrupamentos biológicos são considerados potenciais indicadores das mudanças climáticas do planeta. Mas essa não é uma tarefa fácil, pois o monitoramento dessas populações é inviável pelos métodos de estimativa tradicionais, como manual ou estimativa pela densidade de indivíduos. Considerando-se o cenário atual da pesquisa com morcegos cavernícolas, a proposta dessa dissertação é explorar questões básicas sobre sua ecologia, como aspectos de sua história natural em monitoramento de longo prazo e respostas às variações climáticas de temperatura, umidade e pluviosidade. Para isso foi necessário desenvolver um método de estimativa automatizada de morcegos, que também será apresentado. O objeto de estudo é a congregação abrigada na caverna “Meu Rei”, no Parque Nacional do Catimbau, Tupanatinga/PE. Esses animais são particularmente interessantes, pois estimativas iniciais apontaram milhares de indivíduos, abrigados em um ambiente climaticamente extremo extremas como a Caatinga. O monitoramento ocorreu entre Outubro de 2014 e Setembro de 2015, com censos mensais no abrigo e coleta de dados climáticos. A congregação apresentou grande variação ao longo do monitoramento, entre 188 e 129074 animais, estimados por um sistema automatizado com erro médio de 20,05±16,88%. Foram registradas oito espécies nesta comunidade, com representantes de cinco guildas alimentares. Algumas das espécies são constantes na caverna, mas outras parecem usar a caverna apenas durante períodos reprodutivos, sendo que sete das oito espécies foram encontradas com indícios reprodutivos. Essa presença pode se relacionar com a estabilidade climática do abrigo em relação ao ambiente externo, evitando-se a influência de alterações climáticas já que a temperatura e pluviosidade nas quinzenas anteriores aos censos influenciaram a abundância no abrigo. Os morcegos ainda influenciam o microclima da caverna, alterando a temperatura e umidade do interior. Esses dados contribuem ao conhecimento da quiropterofauna, demonstrando sua importância na manutenção do abrigo e sua resposta às variações no clima do ambiente. Além disso, o sistema de estimativa apresentado alavanca a introdução de censos automatizados e padronizados de morcegos, com monitoramentos mais precisos. Esse monitoramento é necessário para tomadas de decisões para a conservação dos grupos de morcegos, que são potenciais prestadores de serviços ambientais na área.