Cavernas são abrigos essenciais para centenas de espécies de morcegos e, frequentemente, desde espécies nectarívoras até frugívoras, insetívoras e hematófagas são encontradas em uma mesma caverna. As cavernas, de forma geral, apresentam elevada estabilidade ambiental, e essa estabilidade é desejável para um abrigo em potencial, pois suas características microclimáticas são muitas vezes importantes para sua seleção pelos morcegos. Além da diversidade de espécies, algumas cavernas também podem abrigar populações excepcionalmente grandes, de dezenas de milhares até milhões de indivíduos. Essas são as chamadas bat caves e/ou hot caves, cuja temperatura é mais elevada devido ao calor corporal irradiado das altas densidades de determinadas espécies de morcegos. Os morcegos, além de prestarem serviços ambientais no ambiente externo, como polinização, dispersão de sementes e controle de insetos (alguns inclusive, considerados pragas agrícolas), ainda contribuem de forma vital para os ecossistemas cavernícolas. O guano trazido diariamente por morcegos para dentro das cavernas é identificado como essencial para a manutenção de ecossistemas inteiros, pois representa em alguns casos o único ou principal input de energia para centenas de outras espécies da biota cavernícola. Apesar de relevante, poucos estudos se propuseram a abordar o aporte de guano dos morcegos em ambientes cavernícolas sob o ponto de vista quantitativo, e menos ainda na região Neotropical. Assim, o presente estudo visou avaliar as contribuições dos morcegos no input de guano em cinco bat caves no Nordeste do Brasil, levando em consideração a riqueza e o tamanho das populações de morcegos nessas cavernas, identificando e estimando os depósitos de guano e suas taxas de acumulação por caverna e também estimando o input trazido para dentro das cavernas pelos morcegos insetívoros. Para a coleta de dados foram realizados: i) censos populacionais, utilizando técnica não invasiva e contagens automatizadas, ii) resgate do registro de dados da temperatura da caverna, iii) captura e pesagem dos morcegos para estimar o consumo de insetos por noite, iv) instalação de coletores de guano por 96 horas e medidores graduados no piso da caverna para estimar o acúmulo e velocidade de deposição do guano, respectivamente, e v) montagem de grids regulares para estimar a profundidade e o volume de guano em alguns setores da caverna. Esse estudo mostrou que a abundância de morcegos nessas bat caves varia bastante inter- e intracavernas, indicando abrigos com alto dinamismo de ocupação. Variações também foram observadas na quantidade de insetos ingeridos pelos morcegos por noite, o que resultou em um aporte de guano espacial e temporalmente heterogêneo nas cavernas. Ainda assim, todas as cavernas amostradas continham depósitos de guano volumosos em seus interiores, confirmando e reforçando o papel dos morcegos como agentes do input de energia – na forma de guano – nesses ambientes. Os resultados apontam ainda que as variações na temperatura da caverna são influenciadas pela quantidade de morcegos em seu interior, permitindo que o monitoramento da temperatura seja usado na reconstrução de padrões de uso dos abrigos pelos morcegos. Este estudo fornece dados quantitativos sobre as contribuições ambientais prestadas pelos morcegos, cuja identificação e quantificação estão entre as prioridades para a conservação de morcegos no Brasil, além de contribuir com informações sobre a interação morcego-caverna.
PIMENTEL, Narjara Tércia. A contribuição dos morcegos no input de energia na forma de guano para bat caves no semiárido nordestino. 2021. Dissertação (Mestrado em Biologia Animal) – Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2021.