Por Drica de Castro (Grupo de Espeleologia Serra da Bodoquena – GESB)
Hoje praticado por muitos como uma atividade de contemplação com uso de equipamentos de alta tecnologia, o espeleomergulho surge na espeleologia como mais uma técnica para ampliar as explorações. Os primeiros mergulhos em cavernas foram realizados na Europa por espeleólogos que precisavam conquistar passagens alagadas para conhecer o que havia além destas. Há registros de mergulhos feitos em sifões do Reino Unido em fins do século 18, sem uso de equipamentos (os exploradores simplesmente prendiam a respiração e atravessavam os condutos). À mesma época, na França, começam a ser feitos mergulhos com uso de escafandro, equipamento que continua sendo usado até o começo do século 20. A partir da invenção do aqualung, em 1943, e o aprimoramento de rebreathers, no pós-guerra, a exploração de cavernas submersas cresce exponencialmente e, além da descoberta de grandes sistemas submersos, importantes trabalhos científicos neste ambiente começam a ser realizados.
Nas décadas de 1970 e 1980 o mergulho em cavernas se torna muito popular nos EUA onde estão localizados sistemas quilométricos de caverna totalmente submersos. A combinação do aprimoramento de equipamentos e técnicas com a característica do carste do estado americano da Flórida faz com que muitos mergulhadores de águas abertas, sem contato nenhum com a espeleologia, se tornem mergulhadores de cavernas. E é neste ambiente que é desenvolvida a maioria dos equipamentos que hoje possibilitam mergulhos com grandes penetrações (mais de 5000 metros) e em grandes profundidades (até cerca de 300 metros).
Aqui no Brasil, os primeiros mergulhos em caverna ocorrem no final da década de 80 com a exploração de sifões nas cavernas do PETAR, no estado de São Paulo, e nas cavernas submersas da região da Serra da Bodoquena,no Mato Grosso do Sul. Nos anos 1990 começam a acontecer cursos regulares para treinamento na atividade e cerca de 300 mergulhadores são certificados, durante a década, nos padrões das agências norte-americanas. Acontecem neste período importantes expedições para exploração de cavernas do Mato Grosso do Sul, Bahia e Goiás com produção de alguns mapas e trabalhos científicos de importantes universidades de nosso país.
No ano de 2001 uma Portaria, com a finalidade de regulamentar a atividade, acaba por praticamente inviabilizá-la, o que restringe a exploração de novos sistemas, as pesquisas e o treinamento dos espeleólogos e mergulhadores. Após seis anos, uma Instrução Normativa (já revogada), publicada com base em debates entre mergulhadores, entidades governamentais e a Sociedade Brasileira de Espeleologia, flexibilizou a atividade. Hoje temos cavernas licenciadas para visitação comercial em propriedades particulares e um (frágil) sistema de autorização para mergulho em Unidades de Conservação. Há algum trabalho ainda a ser feito junto aos órgãos licenciadores no sentido da regulamentação da atividade.
A Seção de Espeleo Sub da SBE vem trabalhando em sua missão de tornar o espeleomergulho uma atividade próspera em nosso país, para assim possibilitar a preservação de nosso patrimônio espeleológico através da exploração e pesquisa científica.