Ecologia química em cavernas com grandes congregações de morcegos no semiárido brasileiro

Resumo

Cavernas contendo grandes congregações de morcegos são conhecidas no meio espeleológico como bat caves. Estes abrigos têm alta relevância conservacionista, elevado potencial bioindicador, e devem receber proteção formal de acordo com a legislação brasileira. Pesquisas identificaram ao menos nove bat caves no Semiárido do Nordeste, e estes abrigos vêm sendo estudados e monitorados, alguns mensalmente há 10 anos, algo inédito no Brasil. Censos indicam tanto cavernas com populações flutuantes quanto residentes que, em alguns casos, podem ser próximas à 150.000 morcegos. Flutuações temporais de mais de 600% foram registradas, apontando deslocamentos maciços e coordenados de indivíduos entre diferentes bat caves. E, de fato, recapturas de animais marcados confirmaram tal mobilidade. Assim, estes morcegos são capazes de localizar e memorizar espacialmente tais abrigos especiais, usando uma combinação de visão, memória espacial, ecolocalização e, potencialmente, olfato. Estes abrigos não são selecionados ao acaso, mas sim por conterem características térmicas e químicas peculiares. O acúmulo de guano nestas cavernas e suas combinações de elevada temperatura e biota singular certamente conferem a estes ambientes características químicas diferenciadas. Este projeto propõe a investigação de aspectos da ecologia química de bat caves, que permanecem ainda pouco ou nada explorados no Brasil. Propomos 1) a identificação e caracterização dos compostos orgânicos voláteis decorrentes da presença de morcegos, do guano por eles produzidos, e das interações biológicas, físicas e químicas de outros microrganismos com o guano nestas cavernas, 2) a análise da existência de assinaturas químicas espécie-específicas ou caverna-específicas, e 3) a investigação sobre se os compostos químicos presentes e suas concentrações poderiam facilitar a localização destes abrigos pelos morcegos.