O naturalista dinamarquês Peter Wilhelm Lund (1801-1880), considerado o pai da Paleontologia brasileira, professava a chamada Teoria do Catastrofismo, do Barão Georges Cuvier. Foi para tentar comprovar esta teoria que o naturalista escavou milhares de fósseis nas cavernas de Lagoa Santa (MG) entre 1835 e 1844, quando descreveu dezenas de espécies extintas do período Pleistoceno. Durante este trabalho, Lund descobriu os esqueletos fossilizados de cerca de 30 seres humanos, que ficaram conhecidos como os Homens de Lagoa Santa. Logo após esta descoberta, o naturalista enviou suas coleções para a Dinamarca e pôs fim nos trabalhos de campo, sem no entanto voltar ao seu país e permanecendo no Brasil até sua morte. A maior questão não respondida sobre a vida de Peter Lund, e o objetivo deste trabalho, é entender porque afinal ele parou de pesquisar? O próprio Lund alegou falta de dinheiro. Mas seus biógrafos escolheram como bode expiatório o cansaço físico e intelectual após anos de trabalho ininterrupto nas cavernas. A resposta, no entanto, encontra-se na coleção de cartas de Lund, arquivadas na Biblioteca Real de Copenhagen. O presente trabalho é resultado do estudo de uma pequena parte desta correspondência. Analisou-se a vida do naturalista à luz da sua relação com a família, mestres e amigos no Brasil e na Dinamarca, na esperança de identificar a razão para o término das pesquisas de um dos mais influentes cientistas do Brasil no século XIX.
The Danish naturalist Peter Wilhelm Lund (1801-1880), also called “Brazilian Paleontology’s father”, was a proponent of the Catastrophism theory formulated by Georges Cuvier. In search of a proof for this theory, Lund excavated thousands of fossils from the caves of Lagoa Santa (MG) between 1835 and 1844, eventually describing dozens of extinct Pleistocene species. Meanwhile, Lund found fossilized skeletons of some 30 human individuals, that became known as the People of Lagoa Santa. Soon after that, Lund sent his collections to Denmark and put an end to his fieldwork. But he never returned to his country, remaining in Brazil until his death. A major question that remains about Lund’s life, and the object of this work, is to know why after all he stopped his research? Lund’s himself wrote that lack of money was the cause of it. But his biographers choose as scapegoat his physical condition and intellectual tiredness after years of uninterrupted work in the caves. The answer, however, is to be found in Lund’s letter collection, archived at the Copenhagen Royal Library. The present work is the result of the study of a small part of this correspondence. By analyzing the naturalist’s life and his relations to his family, masters and colleagues both in Brazil and Denmark, my hope was to identify the reason for the end the research of one of the most influent scientists of Brazil in the Nineteenth century.