A região amazônica constitui-se como palco de vasta literatura e curiosidade acerca das questões indígenas, dentre elas, Canaimé desperta atenção especial. Essa dissertação parte de uma pesquisa bibliográfica da análise das narrativas, em material disponível, particularmente o conteúdo extraído do projeto Panton Piá – Narrativa Oral Indígena, e Dark Shamans. Discute a importância social do mito, dentro da cultura ameríndia, a relação entre mito e narrativas, assim como práticas xamânicas. A abordagem de assuntos polêmicos, as interferências externas e a visão da violência associada ao Canaimé sob diversos aspectos permitem um olhar diferente, de encanto, poesia e temor.
The Amazon region is as vast literature of stage and curiosity about indigenous issues, among them, Kanaime arouses attention. This dissertation part of a literature search from the analysis of narratives – in avaliable material, particular the extracted contents of Panton Pia Project – Indigenous Oral narrative and Dark Shamans. Discusses the social importance of myth in this Amerindian culture, the relationship between myths, narrative as the shamanic practices. The approach of controversial affairs, external interference and the vision of violence associated with Kanaime under different aspects allow a different look, charm, poetry and fear.
Outra situação percebida foi à dificuldade em se produzir um levantamento estatístico das mortes atribuídas a Kanaimà, no que tange ao território Guianense, visto que as leis daquele país, assim como os demais, não reconhecem a categoria morte por Kanaimà, ou seja, para o governo guianense, a morte ocorrida em seu território, será sempre investigada como sendo morte normal: se algum indivíduo é vítima de assassinato, esse crime é investigado como qualquer outro assassinato. Em face dessa questão de conceito e legalidade governamental, os assassinatos atribuídos ao Kanaimà, segundo Whitehead, são falsificados a fim de atender aos trâmites burocráticos, visto que o Estado controla essa situação com firmeza, talvez como forma de estabelecer um controle rígido de lei e ordem. Sentiu-se desapontado Whitehead ao ver pela primeira vez uma urna fúnebre onde estavam os restos mortais de um membro da comunidade patamônica, urna encontrada em uma caverna chamada de Kuyali’yen na língua dos Patamona ou “Macaw cave” em sua tradução em inglês. Essa urna era muito pequena para caber os restos mortais de uma pessoa, mas estava também acompanhada de uma tigela de oferendas. A identificação de uma cobra enrolada, colada na boca do vaso de oferendas é, segundo a tradição dos Patamona, uma característica dos rituais atribuídos a Kanaimà. Curioso com a descoberta, Whitehead não se conteve em apenas fotografar os objetos mortuários, mas resolveu tocá-los. Em sua apreciação, embora tendo noção de não ser o primeiro não-Patamona a ver esses vasos, passou a acreditar que o fato de ter sido levado até aquele local devia-se mais a conflitos contemporâneos do que com um passado arqueológico. (citação às pa´ginas 32 e 33). (Neil Whitehead – Antropólogo inglês, mais conhecido por seu trabalho sobre a antropologia da violência, xamanismo, Canaimé da Guiana e a antropologia histórica da América do Sul e do Caribe.)